sexta-feira, 31 de julho de 2009

Ontem, finalmente, chegaram as nossas carteiras de identidade canadense (Permanent Resident Card). Não chegou a demorar o tempo que achamos que demoraria. Tinham dito que seria em torno de 45 dias, mas chegou com 30. Nem preciso falar o quanto isso nos deixou felizes.
Nesse um mês que estamos aqui já fizemos muitas coisas para o nosso processo de adaptação mas também ficamos sabendo de muitas outras que ainda precisamos fazer e que nem fazíamos idéia. Andei olhando um curso de arquitetura (technician) que me pareceu bem interessante. Fomos algumas vezes ao Regina Open Door (centro de acolhimento de imigrantes) e o trabalho deles é realmente muito bom para um recém chegado. E descobrimos que precisamos nos aplicar para o serviço de saúde de Saskatchewan, e isso é por onde quero começar a falar.
Eu não sei muito bem como funciona no resto do Canadá, mas eu acredito que seja basicamente a mesma coisa. Antes eu achava que bastava ter o SIN (Social Insurance Number) e já estaríamos cobertas pelo plano nacional de saúde. Mas não é bem assim. Nós teremos que procurar o Saskatchewan Health (http://www.health.gov.sk.ca/how-to-register) e, preenchida toda a papelada e entregue todos os xerox que eles exigem, demoram algumas semanas para termos a nossa carteirinha. Com o SIN nós temos direito de usar o sistema de saúde em caso de emergência. Mas para marcarmos uma consulta, precisamos do cartão expedido pela província.
Ao contrário do que eu já vi em muitos blogs, aqui é sim possível ir a um médico sem muita demora. A dois quarteirões da nossa casa existe o que eles chamam de "walk-in clinic" que, como o nome já diz, qualquer um pode ir e pedir para se consultar. Eu tentei fazer isso para conseguir uma receita de um remédio que eu preciso, mas acabei deixando para voltar depois. Mas a informação que eu tive é que pagando CAN$ 30,00 você pode se consultar mesmo se não tiver o SIN. Não sei se são apenas clínicos ou se existem especialistas nessas clínicas também, mas já fiquei bem mais tranquila por saber que posso "burlar" o sistema de saúde caso isso seja necessário.
Uma grande vantagem de se morar em uma cidade do porte de Regina é que dificilmente vai ter uma enorme quantidade de pessoas na fila para serem atendidos. Então acredito que aqui, ao contrário de Vancouver ou de Toronto, dificilmente alguém vai esperar 5 horas com uma dor abdominal. E o melhor é que dentro da própria clínica já tem uma farmácia. Aí você já faz o serviço completo.
Agora... voltando para o mundo dos que já tem a carteira de saúde de Saskatchewan, vamos àqueles fatos que fazem do Canadá um lugar inacreditável para um brasileiro. Estava conversando com um amigo canadense e ele me disse que quando eu tiver a carteirinha, se eu for ao médico e ele me prescrever um remédio, o valor máximo que pagarei por esse remédio será CAN$ 8,00. Eu cheguei a olhar o valor do remédio que eu preciso tomar (CAN$ 41,65), mas se eu já tivesse a carteira, eu pagaria no máximo CAN$ 8,00. É porque aqui o governo entende que se o médico te mandou tomar o remédio é porque é papel dele (governo) subsidiar seu tratamento. Nem comento o quanto esse país me deixa de boca aberta...

sábado, 25 de julho de 2009

Como eu já disse anteriormente, nós estamos morando em uma cidade chamada Regina. Essa cidade é a capital de uma província (estado) chamada Saskatchewan. Como o Canadá é um país de dimensões comparadas (maior, inclusive) ao tamanho do Brasil, fica fácil para um brasileiro entender que existem significativas diferenças geográficas entre algumas províncias. E é sobre isso que eu quero falar.

É sabido por muitas pessoas que Vancouver tem uma das temperaturas mais amenas do Canadá. E isso realmente é verdade. São poucos os invernos em que Vancouver chega a registrar muitos dias com temperaturas abaixo de 0oC. Já em Regina, os invernos (como o do ano passado) chegam a atingir temperaturas abaixo de 40oC com sensação térmica de quase -50oC.

Quando dito assim, provavelmente para a maioria dos brasileiros a escolha imediata de um lugar para morar no Canadá seria Vancouver. Mas eu gostaria de fazer algumas considerações a respeito disso porque o que a princípio parece preto no branco, revela uns cinzas e uns azuis aí que, para mim, fazem toda a diferença.

Vancouver tem temperaturas amenas para um país tão próximo dos pólos mas, pela proximidade com o Pacífico e as massas de ar quente que encontram com ar frio e zzz...zzz...zzz... meteorológico, lá chove pra caramba no inverno. Aliás, no inverno, na primavera, no outono e, sometimes, no verão também. Vancouver é uma das cidade onde mais chove no Canadá. E pelos meus cálculos (nada compromissados com a ciência), chove uns 200 dias por ano. Só de pensar, eu já fico deprimida.

Já em Regina, o frio começa por volta de outubro e termina lá pra abril. Fazendo as contas nos dedos, estamos falando de sete meses nos quais a temperatura é menor do que 15oC. Ou seja, os 200 dias por ano que chovem em Vancouver, fazem frio em Regina. Para quem vem de Belo Horizonte como é meu caso, é só imaginar aqueles 10 dias por ano de inverno que nós temos multiplicados por 20...

Só que os 10 dias de frio em BH me incomodavam muito mais do que os 200 dias daqui. E a diferença é muito simples: tudo aqui é preparado para o frio. Dentro de casa, você controla a temperatura. Na minha, está sempre 24 graus. Nos shoppings, nos cinemas, nos supermercados, nos hospitais, em todo lugar que se vá, a temperatura gira sempre em torno disso também. Só existe inverno mesmo fora de ambientes fechados. Nesse sentido, Vancouver e Regina empatam, afinal, a chuva também só fica lá fora. Mas, na minha opinião, andar na neve é muito (mas muito mesmo!) melhor do que na chuva.

Tudo bem que é preciso colocar casaco, bota, cachecol, protetor de orelha, gorro... tudo para se proteger quando se está do lado de fora. Mas existem tantas possibilidades indoor, o transporte coletivo é tão eficiente, os acessos cobertos/fechados são tantos que a vida não fica assim that difficult...

Agora... voltando à questão dos cinzas e dos azuis entre o preto e o branco, isso foi uma alusão ao céu de Vancouver e de Regina. Vou colocar duas imagens aqui que falam por si...

Janela coberta de neve em um dia de inverno em Regina. (Céu azul no inverno)
Um dia de verão em Vancouver. (Céu cinza no verão)
Eu não sei quanto a você, mas para mim o azul do céu e o sol são fundamentais para me manter com bom humor. Eu ODEIO dias cinzentos. Então, apesar de eu ter amado Vancouver, de ser uma cidade linda, cheia de opções de lazer, estudos, cultura, etc., apesar de ser a cidade que mais aceita a comunidade gay do Canadá e blá, blá, blá, nós colocamos Regina em primeiro lugar no nosso coração e na nossa vida porque ela é a cidade do Canadá com maio quantidade de horas com sol por ano. Cada um tem sua própria medida de influência (ou não) da natureza... Mas... que me perdoem os dias feitos, mas sol é fundamental.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pena que uma foto não é capaz de mostrar a real beleza de um lugar...

Saindo um pouco do assunto principal aqui que é continuar mostrando um pouco o caminho das pedras, resolvi só fazer um parênteses para falar que finalmente fomos conhecer Vancouver. Não fosse o medo enorme de morar em uma cidade que chove uns 200 dias por ano, eu não pensaria duas vezes em dizer que Vancouver deve mesmo ser uma das melhores cidades do mundo para se viver. Além de linda, a capital da British Columbia tem um astral fantástico (pelo menos no verão), cheia de pessoas correndo, andando de patins, bicicleta, jogando basquete, hockey ou simplesmente sentadas ou deitadas na grama curtindo o sol que só se põe perto das 10 da noite.
E como tem gays em Vancouver! Não que eu considere que isso seja uma condição necessária para eu gostar de uma cidade (pra ser sincera, acho que isso até conta meio negativamente para mim em alguns casos), mas foi interessante viver a situação de estar em um lugar com tantas pessoas do mesmo sexo andando de mão dada sem ninguém ligar para isso.

domingo, 5 de julho de 2009

http://www.cic.gc.ca/english/immigrate/sponsor/spouse-apply-who.asp

You may apply as a conjugal partner if:
- you have maintained a conjugal relationship with your sponsor for at least one year and you have been prevented from living together or marrying because of:
an immigration barrier
- your marital status (for example, you are married to someone else and living in a country where divorce is not possible) or
- your sexual orientation (for example, you are in a same-sex relationship and same-sex marriage is not permitted where you live)
- you can provide evidence there was a reason you could not live together (for example, you were refused long-term stays in each other’s country).

Nesse link, é possível encontrar a comprovação de que o governo canadense aceita a inscrição de casais como common-law, independente de serem casais heterossexuais ou homossexuais.

"Note: A common-law partner is a person who has lived with you in a conjugal relationship for at least one year. Common-law partner refers to both opposite-sex and same-sex couples."
Quando começamos a procurar informações sobre o processo de imigração para o Canadá, demoramos um bom tempo para descobrir que existia a possibilidade de nos aplicarmos como um casal. Até que, finalmente, descobrimos que existe sim essa possibilidade!

Algo que para o Brasil nos pareceu impossível, ficou muito claro em algumas páginas do consulado. Então, na tentativa de ajudar os gays que tenham interesse em imigrar para o Canadá com chances maiores de pontuação, vamos a alguns esclarecimentos.

O governo canadense reconhece o casamento entre pessoas do mesmo sexo. E sabe que na maioria dos outros países isso não acontece. Portanto, existe um item nas explicações disponíveis no site que informa que pessoas oriundas de países onde o casamento homossexual não é reconhecido podem aplicar-se como COMUN-LAW. Isso traz algumas implicações (que por sinal são as mesmas para pessoas heterossexuais que se aplicam sem serem judicialmente casadas). É necessário algum tipo de comprovação de que o casal já está junto à mais de um ano. Para um casal hétero eles exigem que essa comprovação seja através do mesmo endereço, a existência de conta-conjunta, bens no nome de ambos, coisas desse tipo. Para um casal gay, as exigências são basicamente as mesmas. No entanto, ainda existe uma condescendência maior porque eles entendem que em países mais homofóbicos, fica difícil até mesmo as pessoas morarem juntas.

Não ficou muito evidente para nós que tipo de comprovação poderíamos apresentar. A primeira coisa que fizemos foi abrir uma conta-conjunta. Como teremos que juntar dinheiro mesmo, a idéia de fazer uma poupança juntas acaba resolvendo dois problemas. A segunda coisa foi passar o maior número possível de contas do apartamento para o meu nome. Coloquei meu plano de saúde com o endereço dela e passamos a conta do TV a cabo para o meu nome. Como não moramos juntas oficialmente, achamos que isso já seria uma boa comprovação. Afinal, não vamos mandar mais do que o xerox de quatro contas diferentes. Se mandarmos duas em meu nome e duas no dela, entendemos que já deve bastar.
Há vários meses atrás, eu resolvi criar um blog que falasse sobre o enorme desejo que eu e minha companheira tínhamos de imigrar para o Canadá. Depois de algum tempo que já estávamos inscritas, eu acabei não levando a diante a história do blog porque, lá no fundo, eu não podia realmente acreditar que as regras seriam as mesmas para um casal heterossexual e um homossexual.
O fato é que, passados 14 meses, eu e ela já estamos morando no Canadá. E somos a prova de que, por mais incrivel que pareça para um brasileiro, aqui nesse país todos são realmente iguais perante a lei.
Como eu já havia escrito alguns poucos posts falando sobre o nosso processo, vou repostá-los aqui para que possa servir de informação para aqueles que, como nós, não acredita(va)m que esse sonho pode sim tornar-se realidade.